Para um profissional interessado em se especializar em gerenciamento de água, o caminho tradicional é ingressar em um curso de administração de recursos naturais oferecido em vários programas de universidades e escolas de negócios. Mas para um executivo que deseja aplicar técnicas de conservação de água em um contexto de negócios, as opções são bem menores.
Se as escolas de negócios quiserem refletir as tendências do setor corporativo, porém, elas precisam recuperar o terreno perdido a esse respeito. A pressa para incluir conteúdo sobre sustentabilidade corporativa nos cursos ainda não encorajou a introdução dos aspectos mais técnicos e estratégicos do gerenciamento de água.
No mundo corporativo, as companhias globalizadas estão levando a conservação da água a sério. A Coca-Cola lista nos documentos anuais que envia à Securities and Exchange Commission (SEC) “a escassez e a qualidade ruim da água” entre os riscos materiais aos seus negócios.
Jeff Fulgham, diretor de sustentabilidade da General Electric (GE), vê um aumento das pressões para a inclusão da água nas prestações de contas corporativas. “Não é algo que se possa mais ignorar”, afirma.
Grande parte do esforço de sustentabilidade ambiental está relacionado ao uso de energia e redução das emissões de carbono, mas muitos especialistas afirmam que as pressões sobre os suprimentos globais de água representam um risco ambiental ainda maior para o planeta.
Fulgham diz que os executivos das empresas precisam ter um conhecimento maior para entender como ela está relacionada a outros recursos. “Isso pode não ser necessariamente parte do currículo exigido, mas um entendimento das implicações financeiras da água sobre o balanço é importante porque ela aparece em muitos lugares que nem sempre são óbvios”, diz ele.
Questões relacionadas à água estão incluídas nos cursos opcionais oferecidos por alguns programas de MBA. Isso acontece no programa “sustentabilidade global e o novo empreendedor”, da Boston University School of Management. No “questões ambientais nas empresas” da Fisher Graduate School of International Business, que mostra como as companhias podem se beneficiar da eficiência de recursos, incluindo a redução do uso da água.
“Companhias de água dizem que têm grandes engenheiros, mas que não conseguem pensar além da engenharia”, diz diretora da RSM
No Illinois Institute of Technology, a Stuart School of Business tem um sobre “política de águas e administração”, que cobre o uso global da água em áreas como irrigação, gerenciamento de sistemas de fornecimento, saneamento, controle de enchentes e energia hidrelétrica.
No que diz respeito a alguns dos aspectos técnicos e de engenharia do gerenciamento de água, alguns dos programas conjuntos de MBA surgidos recentemente ajudam na obtenção de conhecimento aplicado.
Na Wharton School da Universidade de Pensilvânia, os alunos dos cursos conjuntos de MBA/Mestrado em Estudos Ambientais passam três semestres na Wharton, dois no College of Liberal and Professional Studies, dentro da Escola de Artes e Ciências e fazem um curso de verão de encerramento.
Dentro do programa de MBA, no entanto, muitas escolas ainda não inseriram questões relacionadas à água em seus cursos. “O conteúdo sobre sustentabilidade ainda é muito generalizado”, diz Giselle Weybrech, autora de “The Sustainable MBA: The Manager’s Guide to Green Business”. “Eles dão definições sobre o que é sustentabilidade e falam um pouco sobre o que está acontecendo no mundo corporativo, mas realmente não estão dando aos estudantes as ferramentas para a aplicação disso nos negócios.”
Uma exceção é a especialização em água que será lançada em janeiro pela Rotterdam School of Management como parte de seu programa de MBA executivo. O programa montado em colaboração com o Wetsus, Centro de Excelência de Tecnologia Sustentada de Água, combina módulos adotados pela escola com outros na Wetsus em Leeuwarden, além de projetos realizados dentro do contexto de uma companhia.
Os participantes acompanham o MBA executivo junto com estudantes de todos os setores, enquanto um terço do programa é voltado para o tema. Como é modular, essa especialização também será aberta a alunos de outras instituições. Eles estudam num período de quatro a cinco dias por semana e ganham um diploma, mas precisam concluir, ou pelo menos estar a meio caminho de um programa de MBA.
Hetty Brand-Boswijk, diretora de ajuda financeira e desenvolvimento dos programas de MBA da RSM, diz que o curso de especialização em água é elaborado não só para executivos interessados em obter mais conhecimentos sobre questões relacionadas ao assunto, mas também a engenheiros interessados em melhorar suas habilidades em áreas como gerenciamento de projetos, planejamento estratégico, finanças e marketing.
“Companhias de água estão dizendo que têm grandes engenheiros, mas que não conseguem pensar em soluções além da engenharia”, afirma. “Se esses são os diretores financeiros e diretores-presidentes do futuro, eles precisam conhecer a administração da tecnologia que eles estão desenvolvendo, e não apenas a própria tecnologia.”
Ela cita o exemplo de uma companhia interessada em vender sua tecnologia relacionada à água na China ou na Índia. “Você precisa saber qual é a melhor maneira de colocar seu produto.”
Além disso, no que diz respeito às oportunidades de negócios apresentadas pela água, o conhecimento de engenharia, política e até mesmo considerações filosóficas são essenciais.
David Festa, diretor de terras, água e vida selvagem do Environmental Defense Fund, uma organização não governamental, cita o exemplo do emergente setor de negócios de direitos de água. Nele, as empresas conseguem água de áreas onde ela está sendo usada em atividades de baixo valor, como a agricultura, para vendê-la em áreas necessitadas como as cidades, que podem estar dispostas para pagar altos preços por ela. “Se você olhar pelo lado econômico, verá que é uma grande oportunidade”, diz.
Os executivos precisarão ter uma compreensão mais sofisticada do ambiente de negócios para a água, seja na eventualidade reduzir os riscos a que suas companhias estão expostas, seja participando de uma nova infraestrutura de negociação de água, acrescenta Festa.
Ele vê um papel para as escolas de negócios no avanço do conhecimento sobre as questões relativas à água. “Envolver mais as escolas de administração nisso fará as pessoas pensarem em maneiras de administrar esses problemas e sobre o que precisa ser estabelecido.” No entanto, Giselle Weybrech acredita que as escolas precisam fazer mais nesta área. “Está cada vez mais difícil conseguir acesso às quantidades de água que as empresas precisam. Vai demorar, contudo, para os corpos docentes reagirem. O mundo corporativo está se movimentando com muito mais rapidez nestas questões.” (Tradução de Mario Zamarian)